Uma contradição ou uma nova maneira de pensar?
Este título parece meio dicotômico, pois tenta unir duas palavras que não combinam ou que as pessoas não querem unir. Desde jovem tenho o carnaval como o momento da catarse do brasileiro, de todas as classes, já brinquei muito… No imaginário coletivo (e em muitos lugares do mundo) é o momento mais alegre do povo, no qual todos brincam, todos dançam, todos viajam, todos bebem e beijam. Gosto das estrofes do poeta e músico Gabriel Pensador, que ilustram bem este momento na música Mucama: “[…]Que passa todos os seus meses mal, melhora tudo, no carnaval! Dá pra brincar, dá pra comemorar! Só não se sabe muito bem por quê. Entrou de cara na realidade, na quarta-feira que eu quero ver! […]”
Mas este artigo não é para debater o lado filosófico ou econômico desta grande festa. É para fazer com que as pessoas, empresas, clubes, grandes eventos, enfim, todos os foliões se lembrem dos seus impactos sociais e ambientais também neste momento.
O exemplo mais tangível é o que sobra na quarta-feira de cinzas, os resíduos dos festeiros que não impactam somente o ambiental. No ano passado também foi uma grande preocupação do governo em função das chuvas e por virarem criadouros de mosquitos da dengue e de outras doenças. E aí entra o impacto social, afetando as pessoas diretamente!
No Rio de Janeiro, em 2016, foi implantado o Programa Lixo Zero, que multa as pessoas que jogam lixo fora do lugar. Cerca de duas mil multas foram aplicadas, sendo mais da metade delas pessoas que urinavam em qualquer lugar. Uma ação interessante, pois como diz o ditado popular “se não é no amor, é na dor”. Na dor do bolso, em que as pessoas estão sendo educadas por um valor monetário.
No ano passado, no desfile das escolas de samba de São Paulo, o Camarote Brahma fez uma parceria com o Instituto de Compromisso com o Desenvolvimento Humano (ICDH) e a empresa Boomerong para selecionar e destinar corretamente todos os resíduos dos foliões do Camarote. Segundo os organizadores, cerca de 80% pôde ser reaproveitado e os resíduos recicláveis foram doados à cooperativa de catadores Cooper Reciclável.
Imaginem a quantidade de resíduos que poderiam ser reaproveitados dos carros alegóricos, das lindas roupas de penas e arames, das mega estruturas que foram montadas nos carnavais de ruas de Salvador ou Recife, das fantasias dos bloquinhos em São Paulo e Rio de Janeiro, ou ainda dos desfiles das escolas e batuques no interior do país. Pois é, precisamos pensar nisso.
Precisamos pensar não somente nos impactos ambientais do Carnaval, mas também nos impactos sociais diretos, como mostram as famosas campanhas do uso da camisinha, do abuso do álcool, do assédio (de todos os tipos), enfim. Uma marca de cerveja, no carnaval de 2015, divulgou uma campanha com a frase “esqueci o ‘não’ em casa”. A empresa foi muito criticada nas mídias sociais e teve que retirar os milhares de anúncios espalhados em todas as cidades, acusada de ser um incentivo ao estupro.
Mas do outro lado, a agência de publicidade AlmapBBDO criou para a Antarctica, em 2013, uma campanha que foi muito premiada: Catraca da Boa. Incentivando o folião a ir de metrô para a festa na cidade do Rio de Janeiro, colocou uma catraca na qual, em vez do bilhete, você inseria uma latinha vazia da marca e a catraca era liberada.
Como vocês puderam ler, algumas ações são simples, outras mais complexas, outras mais aspiracionais, não importa, estamos em tempos nos quais não podemos somente ir, temos que refletir e agir. Não quero ser a patrulha dos ecochatos, biodesagradáveis ou social borings (chatos), mas estou desafiando estes grandes pensadores chamados seres humanos a desenvolverem a sua percepção para uma vida coletiva e um desenvolvimento pessoal. Realmente não vivemos sós e sabemos que a ação de uma pessoa interfere na outra. No Carnaval não é diferente! Marcas, produtos e empresas, vamos pensar não só nas vendas, mas também conscientemente neste carnaval? E folião, seja feliz, divirta-se, brinque e desenvolva-se!