*Marcus Nakagawa
Um empreendedor que é movido por altruísmo? E cujo maior desejo é conseguir benefícios que transformem parcela da população ou todo um país, ou que ainda tem como objetivo não o lucro baseado nos resultados financeiros – característica básica do empreendedorismo empresarial – mas o ganho social, a mudança do indivíduo e dos problemas da sociedade onde está inserido. Este é o espírito do empreendedor de negócios sociais que destina parte ou a totalidade do lucro dos seus negócios para a ampliação do público beneficiário da sua empresa social.
No final do mês de maio deste ano tivemos a presença no país de Muhammad Yunus, ganhador do Nobel da Paz, criador do banco Grameen e do conceito de negócio social. Ele considera que existem dois tipos de empresas sociais: o primeiro é o de empresas cujo foco é proporcionar um benefício social, em vez da maximização dos lucros para os proprietários. O segundo tipo funciona de modo bem diferente: são as empresas que visam à maximização dos lucros e pertencem a pessoas pobres ou desprovidas de recursos. Nesse caso, o benefício social consiste no fato de que todos os dividendos e o crescimento do capital social produzido pela empresa servirão para beneficiar os pobres.
Mas vamos entender melhor como isso funciona com base em exemplos de sucesso, mesmo porque, o nosso país também é rico deste tipo de empreendedores. E para mapear isso o Projeto Brasil 27 está buscando um caso de empreendedorismo de negócio social em cada um os estados da federação. Já iniciaram a peregrinação no Sul do país em junho realizando palestras e pesquisas sobre o tema. No site do projeto http://www.projetobrasil27.com.br é possível acompanhar cada passo desta jornada.
Uma organização que está difundindo o tema faz algum tempo é a Artemísia, que possui a Aceleradora de Impacto. O programa deles tem a duração de seis meses e ajuda na formatação do modelo de negócio, acesso a rede de mentores, capacitação da equipe e conexão com investidores, gestores e parceiros. A Artemísia já acelerou, desde 2007, 25 startups de 11 cidades de todo o país. Juntos, esses negócios já receberam mais de R$ 18 milhões em investimentos. Outra organização que também vem trabalhando desde esta época é a NESsT que já conduziu três concursos de negócios sociais no Brasil desde o seu lançamento. Mais de 55 organizações brasileiras se inscreveram para entrar no Portfólio NESsT, e 40 delas foram contempladas para desenvolver um plano de negócios e receber capital semente.
O ICE – Instituto de Cidadania Empresarial é outra organização que vem promovendo a temática e apresenta o conceito de negócios sociais como: empresas que possuem a intenção e o comprometimento de trazer impacto social seja por meio de cadeias híbridas de valor ou no impacto social gerado pelo seu produto/serviço final e que, na maioria dos casos, geram retorno financeiro. Na área da educação, O Yunus ESPM Social Business Centre, fruto da parceria da ESPM com o Yunus Centre, é a primeira organização acadêmica fundada na América Latina que trata sobre o tema. O centro foi criado com o propósito de estimular empresas e indivíduos a refletir sobre modelos de negócio que estabeleçam uma nova relação entre o desenvolvimento social e econômico.
Como podemos verificar, algumas organizações estão estudando os negócios sociais. E neste mundo, cujas mazelas sociais, depredação ambiental e diferenças sociais crescem simultaneamente com a população, é fundamental que este tema seja cada vez mais pauta não só no mundo governamental, mas também no mundo dos negócios.
*Marcus Nakagawa é sócio-diretor da iSetor, professor da ESPM e diretor-presidente da Abraps.