Parece redundante uma empresa que se diz mais sustentável falar da sua atuação na área ambiental. Entendo isso devido ao fato de a maioria das pessoas somente associar o termo sustentabilidade ao meio ambiente, plantio de árvores, coleta de resíduos, enfim, tudo o que tem a ver com a cor verde.
Sabemos que a sustentabilidade empresarial é muito mais, não podemos esquecer que toda empresa parte das questões econômicas para existir, ou seja, sem a área financeira, uma empresa não é uma empresa. Todavia, obter lucro, buscar uma ótima receita não é tudo em um negócio. No Brasil, quando abrimos uma empresa elaboramos um contrato social mostrando qual é o nosso objetivo de prestar serviço ou produzir e vender produtos para a sociedade. Pois é, às vezes esquecemos que o empreendimento foi criado para satisfazer uma necessidade da sociedade por meio dos produtos e serviços, seja desde uma necessidade básica até uma necessidade de autoestima, como mostra a pirâmide de Maslow.
Porém, esta busca por atender a necessidade não pode impactar negativamente as pessoas ou o meio ambiente em que ela vive. Por isso, uma parte das grandes empresas está se preocupando com este tal tema da sustentabilidade para não agredir a população ou o meio ambiente no seu entorno ou no do fornecedor. E aí que está o ponto para as PMEs e empreendedores de plantão!
Ou seja, esta é a grande oportunidade para que a empresa entre ou permaneça na cadeia de valor de uma grande empresa que se diz mais sustentável.
Como o meio ambiente é o primeiro ponto que é lembrado quando falamos de sustentabilidade, é fundamental que o empreendedor pense e aja focado também no tema. Sabemos que na vida real é muito difícil para uma pequena e média empresa dar foco para um tema que não seja produção, vendas, vendas e vendas. Mas esta ação pode ser vista como um valor agregado que ajudará inclusive nas vendas da maioria dos empreendedores.
Um exemplo é uma empresa familiar de soluções em ponto de vendas chamada MIB Group, que tem seu escritório comercial em São Paulo, o parque gráfico em Cotia e vende para todo o Brasil. Eles começaram com a análise e acompanhamento dos seus dados ambientais como uso da água, da energia, gestão dos resíduos e dos insumos. Ao mesmo tempo fizeram uma parceria com a Fundação S.O.S. Mata Atlântica para o projeto Florestas do Futuro e montaram o projeto Florestas Lamà, que consistia no plantio de árvores a cada venda do Lamà, o totem de papelão de fácil montagem, um dos principais produtos da empresa. O cliente da empresa que comprava o Lamà recebia um certificado mostrando que todo o papelão utilizado foi compensado voluntariamente por meio de plantio de árvores.
Posteriormente a MIB Group tirou o certificado ISO 14001 de gestão do meio ambiente e montou um relatório de ações socioambientais, demonstrando todas as ações realizadas para o meio ambiente e para a sociedade.
Estas ações fazem parte de alguns indicadores de sustentabilidade que podem ser realizados aos poucos pelas empresas. Para o meio ambiente, segundo os indicadores Ethos, pode-se verificar e implementar ações a partir dos seguintes indicadores, respondendo às perguntas:
– Mudanças climáticas: como é a governança das ações em relação às mudanças climáticas na sua empresa? Quais são as adaptações da empresa perante as mudanças climáticas?
– Gestão e impactos ao meio ambiente: Existe um sistema de gestão ambiental? Como é prevenido a poluição/resíduos? Como é o uso e controle de água, energia e materiais utilizados nos processos? É utilizado material direto da natureza/biodiversidade? Como é esta gestão? É feita educação e conscientização ambiental? Como?
– Impacto do consumo: como é o impacto da empresa com o transporte, logística e distribuição? É feita a logística reversa ou recolhimento e destinação correta dos produtos no seu fim de vida?
Pode parecer assustador a quantidade de perguntas para quem está preocupado em pagar os INSS dos seus funcionários em dia. Porém, para buscar entrar numa cadeia produtiva de uma empresa que se diz mais sustentável, ou para ir além de vender produto ou serviço, basta começar com um dos pontos, depois outro, depois outro, e assim por diante. O desafio para o empreendedor é o que o motiva para o sucesso! Já escolheu um deles para começar neste novo ano?
*Marcus Nakagawa é sócio-diretor da iSetor; professor da ESPM; idealizador e presidente do conselho deliberativo da Abraps (Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade); e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. www.marcusnakagawa.com