Com a intensificação da pandemia ao redor do mundo, as preocupações ligadas às questões socioambientais aumentaram. Em vista disso, as organizações passaram a se engajar cada vez mais em projetos que visassem o meio ambiente, bem como o ser humano. Dessa forma, as companhias pararam suas esteiras a fim de produzir máscaras, álcool em gel, luvas e até vacinas.
De acordo com a Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), no seu monitor de doações do Covid, foram mais de R$ 6 bilhões, em serviços e produtos doados. Mas será que esse momento de união das marcas são porque acreditam na causa, ou é apenas um mecanismo de induzir os consumidores a comprarem algo que permita menos peso na consciência, afinal a compra do produto “faz bem para o planeta”?
Esta pergunta vem diariamente sendo feita, pois a nova geração gradativamente mais cética em relação às marcas que se dizem abraçar as questões sociais e ambientais, por meio de seus produtos e serviços, vendem para mídia uma imagem, com o objetivo de ganhar reconhecimento do mercado, mas dentro do próprio negócio agem de outra forma. Temos presenciado cada vez mais as pessoas nas redes sociais se aprofundarem em movimentos organizacionais que levantam pautas sobre práticas sustentáveis.
Isso tem crescido a ponto de muitos buscarem adquirir itens apenas de empresas que afirmam gerar impactos positivos para a sociedade e natureza. Prova disso, é a pesquisa Estilos de Vida, de 2019, realizada no Brasil, pela Nielsen. Cerca de 42% dos consumidores brasileiros estão em busca de mudanças quando se trata de seus hábitos de consumo, e 30% dos entrevistados dizem procurar ler os ingredientes que compõe o produto. Os dados revelam também que 58% das pessoas já não compram mais mercadorias que fazem teste em animais e 65% pararam de obter qualquer coisa que esteja associada às questões de trabalho escravo.
Para o especialista em sustentabilidade, professor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS), Marcus Nakagawa, este será o futuro e a pandemia veio para reforçar isso.
“Muitas marcas já iniciaram um processo de transformação em seu DNA e agora querem se enquadrar como eco-friendly, ou seja, optam por fontes de energia renováveis, monitoram e controlam com maior precisão o consumo de recursos, escolhem fornecedores reconhecidos por iniciativas de baixa emissão de carbono; fazem coleta seletiva, entre outras ações”, explica.
O conceito e exercício dessas práticas devem ser diários, pois é com esse tipo de atuação que todos perceberão a real intenção de cada organização. Nakagawa afirma, ainda, que o combate é coletivo, mas também individual, por isso, as pessoas têm procurado obter conhecimento, principalmente, agora durante a pandemia, para que narrativas mentirosas não passem mais em branco.
Enquanto isso não acontece em sua totalidade, especialistas em sustentabilidade como Marcus Nakagawa, acompanham criticamente o desenvolvimento destes discursos e movimentos de marketing de causas.